DAR A VER O QUE ESTÁ AO LADO: Política, Estética e Memória no Prêmio Arthur Bispo do Rosário
Abstract
Desde a Reforma Psiquiátrica no Brasil, surgiram muitos grupos artístico-culturais na
saúde mental que contribuem para a participação sociocultural da população envolvida.
Esta pesquisa buscou compreender como um prêmio específico para este segmento
participa do processo de construção de memória das produções artísticas na interface
das artes e da saúde mental, ao dar a ver as formas de arte que estão ao lado do circuito
das artes, e também os modos inventivos de recebê-las e significá-las que estão ao lado
das formas habituais de categorizá-las numa perspectiva utilitária para fins terapêuticos
ou sociais. O método da cartografia foi utilizado para acompanhar o processo de
construção de uma edição do prêmio e seguir os fluxos de crença e desejo que se
presentificavam nos atores produzindo: estratégias de gestão para combater a
estigmatização das obras e fomentar a participação sociocultural dos autores; e critérios
de seleção das obras nos quais se confrontavam diferentes visões sobre arte em sua
relação com a loucura. Os dados produzidos resultaram em duas tendências de
memória: militante e inventiva. A primeira evidencia-se no modo como jurados
avaliaram as obras tencionando por uma lógica de continuidade entre as formas
sensíveis e uma esperada mudança de comportamento da sociedade em relação à
loucura; e no modo como gestores engendraram estratégias que tendiam à criação de
espaços próprios para a arte de pessoas em sofrimento psíquico. A segunda evidencia-se
na construção de critérios que dão lugar a produções inventivas que alteram o mapa do
sensível e elidem a categorizações que as destinam à função terapêutica ou antiestigmatizante;
e na criação de estratégias para que essa arte pudesse ser vista para além
da loucura ou do serviço a uma causa social.